Reflexão Dominical sobre Tomé

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TOMÉ, UM EXEMPLO DE FÉ PARA QUEM ESTÁ PENSANDO EM DESISTIR

Coitado de Tomé. No Evangelho de hoje faz o papel do incrédulo (Jo 20,19-31). No entanto, ele não é o único. Marcos diz que Jesus aparece aos Onze e os repreende por sua incredulidade e dureza de coração, pois não acreditaram na palavra daqueles que o tinham visto ressuscitado. Lucas, por sua vez, se dirige aos Apóstolos, perplexos e assustados, e pergunta: “Por que vocês estão tão perturbados e por que estas dúvidas surgem em seus corações?”. Por fim, Mateus também faz referência ao clima de incredulidade que reina entre os apóstolos: “Quando o viram, prostraram-se diante dele, eles que também duvidaram”. Todos, portanto, têm dúvidas sobre a Ressurreição de Jesus, não só o pobre Tomé. Por que, então, só se fala dele? João faz de Tomé um símbolo da dificuldade que todos os discípulos encontram ao longo do caminho da fé na Ressurreição. Tomé é Dídimo, nosso irmão gêmeo. Ele é parecido conosco, ou melhor, nós parecemos como ele. Tomé não é um incrédulo, ele está decepcionado. Durante sua vida, acreditou demais no Mestre, estava disposto a dar a vida por ele. Sabia que Jesus era o Caminho e o seguiria a qualquer custa. Mas aí vem a decepção, o escândalo da cruz. Tudo parece dar errado e a alegria de seguir se torna medo, covardia, frustração e choro. Entendo Tomé e compreendo sua situação. Quantas vezes eu também me apaixono por grandes ideais, acaricio sonhos, deixo-me levar pelo entusiasmo e transportar por impulsos de generosidade, contudo. nem sempre dá certo. A vida me surpreende com suas dificuldades e decepções. As derrotas me fazem perder altitude e afundar na sensação de impotência e frustração. Os resultados escassos contradizem o tamanho do investimento. Penso, por exemplo, na minha decepção toda vez que “perco” um dos adolescentes e jovens que procuro ajudar a sair das drogas e das garras da vida do crime; penso nos esforços desumanos de tantas pessoas que lutam por justiça e paz e só encontram perseguição; penso na situação atual do Brasil, sobretudo na incapacidade de boa parte da população de enxergar com lucidez e espírito crítico o que está acontecendo; penso nos militantes que lutam contra as organizações criminosas e são obrigadas a enfrentarem a corrupção que emporcalha todas as instituições, a dor da infâmia e o muro do silêncio; penso nos sonhos despedaçados de pessoas que, de repente, ficam pregadas a uma cama por um doença inesperada; penso no sofrimento de pais honestos e bem intencionados, que fazem de tudo para educar seus filhos de acordo com os ensinamentos do Evangelho e depois os perdem para as drogas e a violência. As decepções da vida testam nossa fé. A dor, acima de tudo, ameaça nossa capacidade de crer. Tomé é o santo padroeiro dos derrotados, dos sonhadores decepcionados, dos que se sentem fracassados e impotentes diante dos dramas da vida. Tomé é meu, o nosso padroeiro, a quem recorremos quando somos atacados pelo desejo de largar tudo, pois não vale mais a pena continuar lutando.

Tomé não é que não acredita, não tem mais força e coragem para fazê-lo. Desta vez ele quer ver sinais concretos. As palavras de seus amigos não são suficientes para convencê-lo. Quer colocar o dedo. E Jesus, com sua paciência divina, o atende. Insiste mais uma vez ou melhor quantas vezes for necessário. Ele retorna oito dias depois. Entra sem fazer barulho. Põe-se no meio. Não repreende ninguém, mas deseja paz, o presente mais aguardado por aqueles que vivem angustiados e frustrados. Ele se dirige precisamente a Tomé, porque Deus é assim, “está perto do que é pequeno, ele ama o que está quebrado. Quando os homens dizem: “perdido”, ele diz: “encontrado”; quando dizem “condenado”, ele diz: “salvo”; quando eles dizem: “abjeto”, Deus exclama: “bem-aventurado!”. (Bonhoeffer). Como fizera oito dias antes, mostra-lhe os sinais da Cruz. Jesus está realmente ressuscitado, mas suas feridas permanecem abertas. Não como uma corrente que amarra a vida a um triste passado que não se consegue esquecer, fonte de permanente sofrimento, de ressentimento e desejo de vingança, mas como prova contundente de Seu amor eterno por nós. Pensávamos que a Ressurreição teria cancelado a Paixão, fechado os furos nas mãos e nos pés e cicatrizado as feridas. Contudo, elas permanecem escancaradas e ostentadas, pois constituem a narração do amor de Jesus gravado em Sua carne com o alfabeto das feridas, inapagáveis como o Seu amor (Ermes Ronchi). Suas feridas são uma fonte inesgotável de Graça, da qual todos podem atingir misericórdia e amor. Jesus as mostra a Tomé e o convida a colocar o dedo nelas como se lhe dissesse: “Tomé, eu também sofri, toque aqui, você não é o único a sofrer…”. Jesus não apresenta evidências científicas, milagres ou promessas de uma vida sem problemas, mas o dom de uma presença solidária. Deus não salva “da” tempestade, mas na tempestade. Não protege contra a dor, mas na dor. Ele não salva o Filho da cruz, mas na cruz” (Padre Bonhoeffer). Jesus simplesmente estende sua mão. Ele responde à decepção de Tomé com o argumento mais contundente: seu amor ilimitado. Seu dom é o Evangelho da Paixão. Esta é a fonte para continuar acreditando e esperando apesar de tudo. Para Tomé é o suficiente. Ele não precisa mais tocar. Basta-lhe ouvir a voz de Jesus. Encontra em Sua Palavra as razões para continuar acreditando. A voz do Mestre é suficiente para reconhecê-lo e segui-lo. É a sintonia com o Evangelho que sustenta e fortalece a fé na
Ressurreição. O amor é a força que nos faz levantar, nos mantem em pé e nos faz continuar a caminhada pelas estradas do mundo para anunciar e construir o mundo novo. A dimensão fundamental da vida cristã não é ver, mas ouvir. “Abençoados são aqueles que acreditam sem ver.” “Bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a vivem todos os dias”, mesmo quando a escuridão escurece nossa existência faz de tudo para apagar o esplendor da luz do Ressuscitado que não sai mais.

(Padre Xavier Paolillo, missionário comboniano)

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